22.8.16

45 Years

Weekend termina com um “e se?”: e se aquelas personagens não se separassem, e se elas se encontrassem mais tarde? Aqui também há um enorme: e se a personagem de Katya não tivesse morrido?
Adoro os “e se...?”. Olho para a minha vida e pergunto-me: “e se não tivesse feito isto?” As pessoas que encontramos mudam irreversivelmente as nossas vidas. E nunca percebemos isso, que a nossa vida está a ser mudada naquele momento em que conhecemos alguém num bar, em que, por essa razão, fazemos uma coisa específica no dia seguinte: de repente a nossa vida está mudada. Isso é tremendamente assustador: há escolhas, decisões mínimas que podem ter um efeito profundo. Para além disso, em termos cinematográficos sempre me interessam mais os filmes que acabam no “e se?”. Parece-me ser mais verdadeiro do que um princípio, meio e fim. Quero que as pessoas saiam do filme, gostando ou não, e voltem a pensar nele, no que vai acontecer à personagem, no que ela vai fazer depois da história. É uma esperança que tenho: que as pessoas se interessem pela história de forma mais envolvente do que a mera ida a uma sala de cinema.

De alguma forma 45 Anos responde ao "e se?" de Weekend: eis o que poderia acontecer aos dois amantes se tivessem continuado juntos até à velhice. 
Sim (...). As relações são forjadas da mesma maneira no início. E tornamo-nos nessa relação. A forma como forjamos um dia regressa para nos assombrar.

Há uma playlist que a personagem de Charlotte prepara para a festa de aniversário, inclui Dusty Sprinfield, Marvin Gaye, Jackie Wilson e os Platters com Smoke Gets in Your Eyes. Foi você que escolheu esta playlist?
Sim, a música está apenas no argumento, no livro [de David Constantine] nem sequer há festa. As canções que tocamos nas nossas vidas definem a nossa vida. São como flashbacks, através delas vamos até ao nosso passado. Quando Kate e Geoff casaram, havia uma música de que gostavam muito, Smoke gets in your eyes, pelos Platters. Tocam de novo no aniversário mas ela toma um sentido diferente. Adoro a canção, mas é uma canção muito complicada: tem o sabor do romantismo mas...

“Tears I cannot hide/ So I smile and say/ When a lovely flame dies/ Smoke gets in your eyes”: é uma canção sobre o fim. 
Exacto, se se ouve sem ligar à letra, é melancólica e gostamos imediatamente. Fazemos com ela o que fazemos com a nossa vida: não nos focamos muito naquilo que ela está a querer dizer. Quando o fazemos – quando nos focamos na letra da canção, quando nos focamos na nossa vida –, tudo se torna mais sombrio. As pessoas não querem fazer perguntas a si próprias. Ora, eu quero que as pessoas saiam do filme e ensaiem perguntas: “O que estou a fazer contigo? Será que ainda te amo?” Devíamos fazer essas perguntas todos os dias, acordar e perguntar para o lado: “Será que ainda quero estar contigo?”

Entrevista a Andrew Haigh, realizador de 45 Years (2015), por Vasco Câmara, no Público.