26.9.16

The opposite of a muse

© Jean-François Bauret, 1987

Já foi há uma semana que o li, mas não queria deixar de o partilhar. Um fascinante artigo sobre como uma secretária médica conseguiu convencer dezenas de fotógrafos cujo trabalho ela admirava a retratá-la ao longo de duas décadas. Vários destes fotógrafos testemunham como ela os conseguiu convencer e por que meios (um deles demorou anos a aceitar o convite, outro nunca cedeu à sua obsessiva insistência) e como ela conseguiu criar com eles objectos que muitas vezes não se enquadravam propriamente no conjunto da suas obras, objectos que nasceram das especificidades do seu corpo, do seu olhar e do que ela procurava enquanto retratada. Ela não se vê como uma artista, mas há quem o defenda. Na sua busca narcísica, na sua obsessão por se ver pelos olhos dos outros e daí obter uma colecção de imagens que a fixam no tempo (atestando a sua passagem) e que a fixam perante ela própria, há um "drive", um desejo, uma urgência que o artista reconhece como vital (atingir o objectivo é outra história e ela, bem, ela manteve o seu compromisso durante vinte anos, até achar que chegara a altura de lhe dar um fim).